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De Porto Alegre ao topo da Difusão Vermelha: a trajetória da brasileira mais perigosa da lista da Interpol
Publicado em 12/06/2025 10:42
POLÍCIA
Entre os 71 brasileiros procurados pela Interpol, sete são mulheres. Uma delas, recentemente incluída, é a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), investigada por invasão e perseguição digital. No entanto, entre as mulheres da lista vermelha da Interpol, o caso mais intrigante e de maior gravidade é o de outra brasileira: a advogada gaúcha Heloísa Gonçalves Duque Soares Ribeiro, considerada foragida há mais de uma década, condenada por homicídio e suspeita de envolvimento em uma sucessão de mortes de ex-companheiros.
Aos 75 anos, Heloísa acumula uma história marcada por relacionamentos conturbados, mortes misteriosas, fraudes e fugas. Nascida e criada em Porto Alegre, ela chamou atenção desde jovem pela beleza e pela desenvoltura. Também é conhecida por usar outros nomes, como Heloísa Borba Gonçalves, Heloísa Lopes, Heloísa Saad ou Heloísa Duque Soares Lopes — sobrenomes adotados ao longo de seis casamentos.
A trajetória criminal de Heloísa teve início na década de 1970, quando foi presa em Brasília por suspeita de fraudes contra a Previdência Social. Em 1978, foi condenada a um ano de prisão, mas a pena foi posteriormente suspensa. Já em 1980, voltou a ser detida, dessa vez por falsidade ideológica ao um documento com identidade falsa. Em 2007, foi novamente condenada por esse tipo de crime, mas a pena acabou prescrevendo.
Contudo, o que mais marca sua ficha criminal são os episódios que envolvem violência e mortes misteriosas de homens com quem se relacionou. Investigações policiais revelam um padrão em sua vida: a repetição de casamentos seguidos de mortes de seus parceiros e a transferência de patrimônios expressivos para o seu nome.
A primeira morte com ligação a Heloísa ocorreu em 1971, quando seu namorado, o médico Guenter Joerg Wolf, morreu em um acidente de carro. Ela estava grávida na época e herdou a casa dele em Porto Alegre. Em 1977, um novo namorado, um advogado gaúcho, levou cinco tiros durante uma viagem com Heloísa a Salvador. Sobreviveu e a acusou de tentativa de homicídio, mas depois retirou a queixa.
No final da década de 1970, já morando no Rio de Janeiro, Heloísa casou-se com o securitário Irineu Duque Soares. Pouco depois, ele foi morto numa emboscada a tiros em Magé (RJ). Ela saiu ilesa e herdou imóveis e contas bancárias. A polícia tratou o caso como latrocínio.
Posteriormente, manteve relações com um policial militar e depois com o coronel do Exército Jorge Ribeiro, morto em 1992 após ser torturado e assassinado com marretadas na cabeça em seu escritório, em Copacabana. Heloísa foi acusada de mandar matar o ex-marido, sendo julgada à revelia em 2011 e condenada a 18 anos de prisão. Já estava foragida.
Entre 1990 e 1991, viveu com o empresário sírio Nicolau Saad, milionário de 71 anos, que morreu de parada cardíaca. Heloísa herdou parte de seu patrimônio, avaliado na época em R$ 30 milhões. Após sua morte, a viúva ou a usar procurações para transferir bens para seu nome, motivo que levou à condenação por falsidade ideológica em 2007.
Depois, engatou relacionamento com o comerciante libanês Wagih Elias Murad, 84 anos, assassinado a tiros em 1993 junto com um amigo. Naquele mesmo ano, o filho de Wagih, Elie Murad, foi alvo de uma emboscada ao investigar o assassinato do pai: sobreviveu com uma bala alojada na nuca, mas o policial civil que o acompanhava, Luiz Marques da Motta, morreu. Heloísa chegou a ser denunciada como suspeita, mas o processo foi arquivado por falta de provas.
Somando as heranças de pelo menos três companheiros mortos, a advogada teria acumulado mais de R$ 20 milhões em bens, conforme estimativas de investigações da época. Desde 2011, é considerada oficialmente foragida, com difusão vermelha emitida pela Interpol, o que significa que seu nome consta na lista de procurados em 190 países.
A última localização conhecida de Heloísa é a Flórida, nos Estados Unidos, onde estaria vivendo sob o nome de Heloísa Saad Lopez. Segundo o Elie Murad, que desde 1993 tenta reunir informações para levar a ex-madrasta à Justiça, ela pode ter utilizado a estrutura de familiares que atuam no ramo de regularização de imigrantes e transporte aéreo para se manter oculta.
A Polícia Federal brasileira e a Interpol confirmam que Heloísa possui cidadania americana, o que complica o pedido de extradição, já que os EUA não extraditam seus próprios cidadãos na maioria dos casos. Em 15 de maio deste ano, o Ministério da Justiça enviou novo pedido de cooperação às autoridades americanas, mas até agora não houve retorno.
A história de Heloísa Borba Gonçalves é acompanhada de perto pelo jornalista gaúcho Herculano Barreto Filho, que cobriu seu julgamento em 2011 e vem atualizando investigações desde então. Foi ele quem popularizou o apelido de “Viúva Negra”, em alusão à aranha que mata o parceiro após o acasalamento.
— Quando descobri o caso, mergulhei em uma narrativa fascinante. Sigo acompanhando até hoje, pois é uma história rara, que atravessa décadas e envolve todos os ingredientes de um grande ‘true crime’ — afirma o repórter.
Mesmo com tantos indícios, mortes violentas e uma condenação criminal, Heloísa segue impune e em liberdade. Quase 50 anos após a primeira tragédia ligada ao seu nome, ela permanece como um dos rostos mais intrigantes e perigosos da lista de procurados da Interpol.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte e fotos: GZH
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